Além | ::dessa existem muito mais Lenda do Curupira ou Caipora :: Havia um homem que era muito amigo de caçar. O maior prazer de sua vida era passar dias inteiros no mato, passarinhando, fazendo esperas, armando laços e arapucas. De uma feita, estava ele de tocaia no alto de uma árvore, quando viu aproximar-se uma vara de porcos-do-mato. Com a sua espingardinha derrubou uns quantos. No momento, porém, em que se preparava para descer, satisfeitíssimo com a caçada que acabava de fazer, ouviu ao longe os assobios do Caipora, dono, sem dúvida dos porcos que matara. O nosso amigo encolheu-se todo em cima do jirau que armara lá na forquilha da árvore, para esperar a caça, e ficou quietinho, como toucinho no sal. - Ecou ! Ecou ! Ecou! Dando com os porcos mortos, estirados no chão começou a ferroá-los com força, dizendo: - Levantem-se, levantem-se, preguiçosos! Estão dormindo? Eles levantaram-se depressa e lá se foram embora, roncando. O último que ficou estendido, o maior de todos, custou mais a se levantar. O Caipora enfureceu-se. Ferreou-o com tanta sustância, que quebrou a ponta do ferrão. Foi então que o porco se levantou ligeiro e saiu desesperado pelo mato a fora, no rumo dos outros. Guinchou o Caipora: Ah! Você esta fazendo manha também? Deixe estar que você me paga. Por sua causa tenho que ir amanhã na casa do ferreiro pra consertar o meu ferrão. E lá se foi embora, com sua voz fanhosa esganiçada: - Ecou ! Ecou ! Ecou ! Passado muito tempo, quando não se ouviam mais nem gritos nem os assobios do Caipora, o homem desceu depressa, correndo até em casa. No outro dia, logo cedinho, botou-se para a tenda do ferreiro, o único que havia por aquelas redondezas. Conversa vai, conversa vem, quando, lá para um pedaço do dia, com o sol já bem alto, chegou à porta da tenda um caboclo baixote, entroncado de corpo, com o chapéu de couro de sábado sobre os olhos. Foi chegando, e dirigindo-se ao ferreiro: - Bom dia, meu amo. Você me conserta aqui este ferrão? Estou com muita pressa... - Ih caboclo, depressa é que não pode ser, pois não tem quem toque o fole. Estou aqui até o ponto dest’hora sem trabalhar por via disto mesmo!Saltou mais que depressa o caçador, que maldara logo ser o caboclo o Caipora da véspera, o qual se desencantara para vir a casa do ferreiro, como prometera: - Eu toco, seu mestre. - E você sabe? - Sempre arranjo um tiquinho. Tanto mais qu'isso não tem sabença. O ferreiro acendeu a forja, mandando o caçador tocar o fole. O homem, então, pôs-se a tocá- lo devagar, dizendo compassadamente: - Quem anda no mato Vê muita coisa... Depois de algum tempo, o cabloco avançou para ele, empurrou-o brutalmente para uma banda e disse: - Sai daqui, que você não sabe tocar. Dá cá isso... Começou a tocar o fole depressa, dizendo: - Quem anda no mato, Que vê muita coisa, Também cala a boca, Também cala a boca. O caçador aí foi-se escafedendo devagarzinho, e abriu o chambre. Nunca mais atirou em porcos-do-mato, nem deu com a língua nos dentes a respeito do que vira.* * * Uma vez, contam que ele, o manata, o Caipora chefão, encarnou numa onça pintada, que ficou azarando numa ponte que dava passagem para uma cidade e ali multava os roceiros que lá iam vender farinha e mais Aí chamaram um benzedô mestre e curadô de quebranto, para dar jeito no lugar. Ele arranjou duas galinhas pretas, nanicas esporudas peou-as com palhas de milhos catete, pôs numa manguara e foi passar pela ponte. O bicho investiu nele em pé e urrando como uma vaca parida. O cabra negou o corpo, puxou de uma garrucha picapau, que trazia, e pregou um perdigoto, rezado e fundido em Sexta-feira da Paixão, bem no rumo do bucho do atacante. Este gemeu, esperneou, estrebuchou e faleceu. Era de noite. No dia seguinte, muito cedo, quando o carimbamba foi ver o que era, deparou com uma pintada macota, esticada, de banda, com a boca ensangüentada, e isto foi uma fufuta na cidade. Toda gente queria ver o tampadinha de sarna na mesma hora e teve um suspenso que durou até o casamento dela com um turco das Arábias. A ponte ficou livre e desembaraçada de estrepolias e encantos; porém o carimbamba, curadô e benzedô, por castigo, virou lobo e saiu disparado pelo chapadão a fora. ...E o contador concluiu a narrativa dizendo: - Eu não tenho medo do Caipora nem do Saci, seu companheiro; pois tenho uma simpatia que é um porrete. Ali para minhãzinha eu lavo a cara com urina e dou um nó na fralda da camisa. A muié lá em casa fomenta o imbigo com azeite e pó de fumo, todos os dias, antes de deitar para drumi. |
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segunda-feira, 22 de novembro de 2010
CAIPORA- LENDA FORA DO PARÁ
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